Por trás de muitos produtos bonitos nos supermercados dos principais centros urbanos no mundo, escondem-se muitas histórias não contadas. Por trás de belos “selos verdes” de certificação, por trás do próprio conteúdo dos produtos e da grande quantidade de papel que os embala, há toda uma história para contar quando o assunto é consumo e contaminação de água.
Boletim Nro 214 – Maio 2015
O roubo d’água: um modelo econômico que seca a vida
Boletim WRM
214
Maio 2015
NOSSO PONTO DE VISTA
O ROUBO D’ÁGUA: UM MODELO ECONÔMICO QUE SECA A VIDA
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3 Junho 2015O modelo econômico de superprodução e consumo afeta diretamente o acesso das populações locais à água potável e aos meios de subsistência. A água, essencial para a vida e considerada “sagrada” por muitos povos tradicionais, está sendo usurpada dos territórios.
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3 Junho 2015A ideia de ver a água como um “recurso” nos impede de conceber o todo: os ciclos vivos.
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3 Junho 2015As pessoas na Indonésia, principalmente na província de Banten, na ilha de Java, exigem que o governo aplique a lei e restaure áreas de bacias hidrográficas, depois de anos poluindo a água do rio Ciujung. A poluição é resultado da liberação de resíduos no rio pela APP, uma das principais empresas de celulose e papel em atividade na Indonésia. Isso mostra particularmente como problemas que incluem desmatamento, conflitos sociais, incêndios florestais, corrupção e poluição da água estão enraizados na cadeia de negócios das plantações de árvores e da indústria de papel no país.
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3 Junho 2015Vastos volumes de água estão sendo desviados por ladrões “silenciosos” que operam 24 horas por dia, 365 dias por ano. As plantações de monoculturas são as culpadas, mas, como as árvores plantadas podem se comportar de maneira tão diferente das florestas naturais?
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3 Junho 2015Nos últimos anos, mecanismos destinados a transformar componentes naturais fundamentais dos bens comuns (biodiversidade, terra, água, florestas e suas funções ecológicas, etc.) em ativos financeiros negociáveis têm se expandido rapidamente. Por causa disso, um número cada vez maior de grupos da sociedade civil se envolve intensamente na tentativa de desvendar os mecanismos, lógicas e motivações por trás dos processos de financeirização e do que eles podem significar para as comunidades. Para reverter essa tendência, que põe em risco a vida de milhões de pessoas em todo o mundo, é fundamental identificar as forças e os principais atores por trás dela.
POVOS EM AÇÃO
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3 Junho 2015Defensores da justiça climática e representantes de comunidades e movimentos se reuniram em Maputo, Moçambique, de 21 a 23 de abril de 2015, para refletir sobre as raízes, as manifestações e os impactos das mudanças climáticas sobre a África e sobre as respostas necessárias às crises. A conferência decidiu, entre outras coisas, rejeitar as falsas soluções para a crise climática, como a Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD), as plantações industriais de árvores, a engenharia genética, os agrocombustíveis e a geoengenharia. Veja a declaração aqui:
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3 Junho 2015O Fórum Social Africano, que acontece em Dacar, em outubro de 2014, lançou a Declaração contra a Concentração de Água e Terra, que afirma que “a concentração de terras sempre vem acompanhada de concentração de água”. Durante o Fórum Social Mundial de Túnis, em março de 2015, o diálogo que já havia entre grupos africanos continuou com movimentos e organizações do mundo todo, para ampliar essa convergência.
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3 Junho 2015Três líderes indígenas foram emboscados por pistoleiros contratados por madeireiros e latifundiários, segundo denúncia do Conselho Indigenista Missionário (CIMI). As mortes seriam uma vingança pelas ações e medidas que as diferentes etnias no leste do Brasil vêm realizando nos últimos anos para erradicar o desmatamento em seus territórios. Cleber Cesar Buzatto, secretário executivo do CIMI, disse que “os crimes não são fatos isolados, estão dentro de um contexto macropolítico de um já prolongado processo de incitação ao ódio e à violência contra indígenas”. Leia o artigo aqui:
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3 Junho 2015Comunidades das bacias média e inferior do rio Madre Vieja, no Pacífico da Guatemala, estão sendo privadas de água por causa de barragens construídas por empresas envolvidas no cultivo de dendê e cana-de-açúcar. Moradores e comunidades organizadas – algumas delas pertencentes à Rede Internacional pelo Mangue – têm denunciado repetidamente que essas empresas estão usando, desviando e retendo água para suas grandes plantações. “Querem nos tirar das nossas comunidades para continuar expandindo a praga do cana-de-açúcar e do dendê, querem secar o mangue para justificar o avanço da monocultura sobre esse importante ecossistema”, dizem.
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3 Junho 2015Camponeses no norte de Moçambique estão lutando para manter suas terras e seus recursos hídricos à medida que governos e empresas estrangeiras avançam agressivamente para criar grandes projetos de agronegócio. Foi lançado o tão esperado Plano ProSavana para o desenvolvimento do agronegócio no Corredor de Nacala, inspirado no chamado desenvolvimento “bem sucedido” do agronegócio na região do Cerrado brasileiro. Embora seja muito diferente de uma primeira versão que vazou devido à pressão da sociedade civil, ele ainda não discute a questão controversa da concentração e dos conflitos de terras.
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3 Junho 2015Enquanto os acionistas da Socfin realizavam sua reunião geral anual no Hotel Bel-Air, em Luxemburgo, em 27 de maio, 300 pessoas de seis povoados afetados se reuniam para protestar contra o fato de a empresa não cumprir seus compromissos em Mondulkiri, no Camboja, e 250 representantes de 13 povoados afetados por sua plantação na Costa do Marfim também se mobilizavam. Antes disso, em 16 de maio, 300 pessoas se reuniram na sede da plantação LAC na Libéria, enquanto 400 se mobilizavam para bloquear a plantação Dibombarri, em Mbongo, de 23 a 28 de abril.
RECOMENDADOS
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3 Junho 2015A nova edição de “World Rivers Review”, uma revista da ONG International Rivers, inclui notícias sobre violações, em todo o mundo, contra os povos indígenas que defendem rios e direitos; uma reflexão sobre os desafios criados por se apresentarem as barragens como “soluções para a mudança climática”; e questiona o que significa um rio saudável a partir de diferentes perspectivas. Atualmente, nada menos do que 3.700 projetos hidrelétricos estão em construção ou em desenvolvimento em todo o mundo. Veja a revista (em inglês) em: http://www.internationalrivers.org/files/attached-files/wrr_april_2015final.pdf
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3 Junho 2015Pessoas podem estar expostas a níveis excessivos de agrotóxicos no trabalho e por meio do alimento, do solo, da água ou do ar. E com a contaminação de águas subterrâneas, lagos, rios e outros corpos de água, os agrotóxicos podem ainda poluir os suprimentos de água potável, peixes e outras fontes muitas vezes vitais para o bem-estar humano. O dossiê “Alerta sobre os Impactos dos Agrotóxicos na Saúde” é uma enorme contribuição na luta contra o silêncio. A publicação, com mais de 600 páginas, reúne informações de centenas de livros e trabalhos publicados em revistas nacionais e internacionais, que revelam evidências científicas e correlação direta entre uso de agrotóxicos e problemas de saúde.
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3 Junho 2015Movimentos pela justiça com relação à água na Ásia se reuniram em Daegu, Coreia do Sul, para o Fórum Alternativo “Água para todos”, em 13 e 14 de abril, em uma luta comum para defender e concretizar nosso direito humano à água e mantê-la como parte dos bens comuns. O Fórum questionou “o modelo de privatização da água e sua transformação em negócio, que está sendo imposto ao sistema público de água da Coréia e de muitos outros países asiáticos.
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3 Junho 2015Não se podem cultivar alimentos sem água. Na África, uma em cada três pessoas sofre com escassez de água, e a mudança climática piora as coisas. Os sofisticados sistemas de água nativos da África estão sendo destruídos pela concentração de terras em grande escala, em meio a alegações de que a água do continente é abundante, subutilizada e está pronta para ser aproveitada para a agricultura voltada à exportação. A maior parte dos negócios de terras na África envolve grandes operações agrícolas industriais que consomem grandes quantidades de água, quase todas localizadas nas principais bacias hidrográficas com acesso à irrigação.