Artigos de boletim

Parece uma bofetada. A agroindústria do dendezeiro tem escolhido justamente o dia 16 de outubro, Dia Mundial da Soberania Alimentar e o país da América Latina mais atingido pelo dendezeiro –a Colômbia- para celebrar a Primeira Reunião Latino-americana da “Mesa Redonda para Azeite de Dendê Sustentável” (RSPO).
Os argumentos em favor da certificação freqüentemente expõem que uma empresa que quer vender seus produtos como produzidos de forma sustentável deve ter uma forma de provar isso. Um consumidor que quer comprar produtos não prejudiciais do ponto de vista social e ambiental precisa de um selo que permita confiar nesses produtos. Quando o problema é assim contextualizado, a certificação parece ser a resposta óbvia.
Todos os “dias internacionais” referem a questões problemáticas de importância global que precisam ser abordadas pela sociedade em conjunto. A expansão das monoculturas de árvores tem resultado em tantos impactos sociais e ambientais que deu origem à idéia de estabelecer um Dia Internacional para colocar a questão no nível global. A data de 21 de setembro foi escolhida seguindo a iniciativa das redes locais no Brasil, que em 2004 decidiram estabelecer essa data- que é o Dia da Árvore nesse país- como um dia de lutas contra as monoculturas de árvores.
Falta de água, mudanças na flora e na fauna, perda de terras, violações dos direitos humanos, destruição da trama social; esses são alguns dos problemas que acarretam as monoculturas de árvores. Quem sabe bem disso são as comunidades locais, que sofrem na própria pele esta invasão; no entanto, suas denúncias e lutas são sistematicamente ocultadas pelo poder das empresas e seus aliados.
No sudoeste florestal de Camarões, próximo a Kribi, há duas plantações industriais enormes que cobrem no total uma superfície de 62.000 ha. Uma delas, a HEVECAM, é uma monocultura de héveas (seringueiras) pertencente ao grupo cingapurense GMG, e a outra, a SOCAPALM, é uma plantação de dendezeiros, propriedade do grupo francês Bolloré.
A Asia Pulp and Paper é provavelmente a companhia de papel mais controvertível no mundo. Ela tem destruído vastas áreas de floresta em Sumatra e substituiu centenas de milhares de hectares com plantações de monoculturas. Em dezembro de 2007, o Conselho de Manejo Florestal (FSC) anunciou sua “dissociação” da APP depois de que a companhia começou a utilizar o logotipo do FSC. O FSC emitiu uma declaração dizendo que tem “a obrigação de proteger a reputação e a integridade associada com nosso nome e logotipo para os consumidores e para nossos sócios e membros de confiança”.
Faz quase cinco anos que a empresa Aracruz ganhou o Selo Verde de qualidade para suas plantações aqui no extremo sul da Bahia. Normalmente é uma conquista muito importante para a Empresa, pois esta certificação significa entre outras coisas que a Empresa trabalha socialmente justo e ecologicamente respeitando todas as leis ambientais, tanto as leis municipais, estaduais como também as leis federais. Para a exportação um selo assim é fundamental para a empresa pois ela ganha grande prestígio no exterior.
Em 1925, a Firestone Tire & Rubber Company assinou um contrato por 99 anos com o governo para arrendar um milhão de acres [aproximadamente 405.000 hectares] de terras para estabelecer uma plantação de borracha. A área total da concessão da Firestone representa 4% do território da Libéria e quase 10% de suas terras agricultáveis.
A monocultura é contra a natureza, que é diversa. É por isso que um sistema não natural como o das plantações industriais de monoculturas de árvores desencadeia vários impactos negativos. Um deles é o incêndio.
No Nordeste do Camboja, diferentes grupos indígenas têm vivido durante séculos, preservando um ecossistema de florestas imenso e extremamente diverso, mantido intato até as recentes décadas, quando começou a explotação massiva das florestas. As práticas agrícolas indígenas, como em outras áreas cobertas por florestas no mundo, têm contribuído para manter a biodiversidade e estão entre as mais sustentáveis conhecidas até agora.
A Indonésia é a segunda maior produtora de azeite de dendê do mundo; junto com a Malásia, são responsáveis de aproximadamente 80 por cento da produção global de azeite de dendê. Com aproximadamente 6 milhões de hectares de terra plantados com dendezeiros, a Indonésia planeja uma importante expansão que prevê cobrir até 20 milhões de hectares para o ano de 2020.
Na Malásia, a expansão do óleo de dendê ocorre de forma paralela com o desmatamento- apesar de os representantes do governo afirmarem o contrário. Um comunicado de imprensa emitido por Sahabat Alam Malaysia [SAM] - Amigos da Terra Malásia, no dia 6 de agosto de 2008, revela que cerca de 2,8 milhões de hectares de terras com grandes extensões de florestas em Sarawak foram entregues a concessões de plantações, principalmente de dendezeiros e de árvores de crescimento rápido para celulose.